Na
véspera de completar 70 anos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não
escondeu a mágoa com Dilma Rousseff e responsabilizou a sucessora pela operação
de busca e apreensão feita pela Polícia Federal na empresa LFT Marketing
Esportivo, pertencente a Luís Cláudio, seu filho mais novo. Em conversa com
pelo menos três amigos, nesta segunda-feira (26) em momentos distintos, Lula se
queixou de Dilma e disse que a situação “passou dos limites”.
Para o
ex-presidente, Dilma só ouve o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo – que,
na sua avaliação, quer apenas “aparecer” -, e não entende que, em nome do
combate à corrupção, pode destruir o projeto político do PT.
Em São
Paulo, o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, tentou ontem pôr panos quentes
na crise e acalmar Lula. Não conseguiu. “O governo não tem qualquer
interferência nas investigações. Agora, nem a Operação Lava Jato nem a Zelotes
podem ser a agenda do País”, disse Wagner. “Precisamos virar essa
página.”
Lula
estará na quinta-feira em Brasília, para participar da reunião do Diretório
Nacional petista, e vai pregar uma forte reação do partido ao que chama de
“ofensiva” para destruir o PT e o seu legado. Na ocasião, receberá a
solidariedade dos correligionários.
Além de
Luís Cláudio, o presidente do Sesi, Gilberto Carvalho – chefe de gabinete de
Lula de 2003 a 2010 e ministro da Secretaria-Geral da Presidência no primeiro
mandato de Dilma – também foi citado no relatório da Operação Zelotes.
Braço
direito de Lula, apelidado por ele de “Gilbertinho”, Carvalho prestou
depoimento ontem no inquérito que investiga a denúncia de compra de medidas
provisórias para favorecer o setor automotivo.
Um dos
amigos que conversaram com Lula contou que ele estava “furioso” e chegou a
chamar a delação premiada feita em outras operações, como a Lava Jato, de
“mentirão premiado”. Disse, ainda, que o governo Dilma “perdeu o controle” das
investigações e que ilações são vazadas, sem prova, para enfraquecê-lo e
impedir uma nova candidatura dele, em 2018.
No
diagnóstico de Lula, a Polícia Federal está cometendo “abusos”, com desrespeito
à Constituição, e os acusados não têm acesso às acusações para se defender. “A
gente não pode permitir que ladrões queiram pôr na nossa testa o carimbo da
corrupção”, afirmou.
Abatido,
ele disse não querer impedir nenhum inquérito e lembrou que, em 2007, até seu
irmão Genival Inácio da Silva, o Vavá, foi investigado pela PF na Operação
Xeque Mate. Comentou, porém, que à época, não havia “perseguição”.
O
ex-presidente disse ter perdido até mesmo o ânimo para comemorar, hoje, o seu
aniversário, mas o Instituto Lula vai organizar uma reunião para lembrar a
data. Os amigos queriam promover uma festa para Lula, na quinta-feira, no
restaurante São Judas, em São Bernardo do Campo (SP). Na semana passada, porém,
ele pediu para cancelar a confraternização.
Em nota,
o Instituto Lula afirmou que “não têm qualquer fundamento” as informações de
que o ex-presidente responsabilizou Dilma pela ação da Polícia Federal.
Fonte: Estadão
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