sábado, 23 de maio de 2015

Casamento coletivo reúne oito casais gays em cerimônia no Recife

Vitor Tavares Do G1 PE
Oito casais trocam suas alianças em casamento de pessoas do mesmo sexo no Recife (Foto: Vitor Tavares / G1) 
Oito casais trocam suas alianças em casamento de pessoas do mesmo sexo no Recife (Foto: Vitor Tavares / G1)
Eles sentem tudo igual a qualquer casal nas vésperas de um casamento. Noivas nervosas em busca dos vestidos, ansiedade para saber os detalhes da cerimônia e planos para a lua de mel. Neste sábado (23), oito casais, após anos de convivência e vida compartilhada, concretizam o sonho da união perante a lei, em um casamento coletivo LGBT realizado no Recife. A cerimônia para convidados e amigos dos casais será no Forte das Cinco Pontas, monumento histórico localizado no centro da cidade. O casamento coletivo é organizado pela Prefeitura do Recife.


A maioria dos noivos que se casa neste sábado já tem uma vida de casado há anos, dividindo apartamento, contas, planos e tudo que uma convivência diária impõe àqueles que escolhem partilhar dessa rotina. Com o casamento civil de fato, permitido por resolução do Conselho Nacional de Justiça desde 2013, esses casais podem agora ter benefícios sociais, financiar imóveis e carros juntos, além de terem direito de adotar o mesmo sobrenome, por exemplo. "Não muda sentimento, mas agora eu posso gritar pra todos que ela é minha esposa, está na lei e exijo respeito", disse Sandra Ferreira, 46 anos, almoxarife que se casa após sete anos de relação com a vendedora Driely Lima.

Elton e Clayson formalizam relação de quatro anos  (Foto: Vitor Tavares / G1) 
Elton e Clayson formalizam relação de quatro
anos (Foto: Vitor Tavares / G1)
 
A mudança para os noivos, além dos direitos legais, é justamente no sentimento de igualdade, de que as suas relações são tão reais e respeitadas como as de qualquer outro casal que se ame. Os estudantes Clayson Lenon, 23 anos, e Elton Passos, 28, se conheceram há quatro anos, em uma festa, e neste sábado constituem civilmente a união com que sonhavam. "Eu me assumi homossexual para todos e para mim quando nós resolvemos começar nosso relacionamento e, em três meses, estávamos morando juntos. Naquela época, a nossa união não era reconhecida. E, hoje, ver o poder público patrocinar o meu casamento, esse momento especial, é muito importante”, disse Elton.

O mês de maio foi o escolhido para a realização da cerimônia pelo simbolismo de ser o mês das noivas e também por celebrar, no dia 17, o Dia de Combate à Homofobia. No início, 15 casais resolveram participar do casamento coletivo, mas sete, por motivos diversos, desistiram no meio do caminho. “Estamos em um momento em que vem sendo discutido o modelo de família tradicional. Então, nada mais justo que garantir a essa unidade familiar o reconhecimento estatal e a proteção que o casamento civil garante. Queremos incentivar que outros casais se assumam o amor que vivem”, destacou Wellington Pastor, da Gerência de Livre Orientação Sexual (GLOS).

Apesar do momento especial para os dezesseis noivos e noivas, muitos não contam com apoio dos próprios familiares e evitam exposição, mesmo diante de toda coletividade que a cerimônia deste sábado pede. A certeza do que querem, entretanto, não passa por questionamento. É o caso das empresárias Vivian e Glicia, juntas há sete anos, desde que se encontraram em uma roda de amigas. Usando há muito tempo a aliança na mão esquerda, simbolizando a relação conjugal, as duas agora se preparam para o momento que não tiveram a oportunidade de viver antes. “É uma questão de civilidade”, disse Vivian.  “Toda noiva fica em pânico antes de subir ao altar com seu vestido, né?”, completou Glicia, completamente no clima da celebração.

Vivian e Glicia já usam aliança na mão esquerda (Foto: Vitor Tavares / G1) 
Vivian e Glicia já usam aliança na mão esquerda
(Foto: Vitor Tavares / G1)
 
Mesmo não sendo uma obrigação, alguns casais vão trocar de nomes. É o caso de Clayson, que vai adotar o “Passos” do marido, Elton. A escolha é forma de se sentirem mais ligados e, no caso dele, pertencer a uma família que sempre apoiou a relação dos dois. “A gente chegou a morar com mãe de Elton, é uma história diferente da que eu tive, que as pessoas não aceitam”, disse.

O gosto desse casamento também é quase a celebração de uma vitória, diante de preconceitos  e momentos de rejeição por que muitos passaram ao longo da trajetória. O paraense Augusto Cordeiro e o pernambucano Rodrigo Sátiro dizem que agora é o início de uma nova página na história deles, deixando esse sentimento visível para todos. “Nossas famílias toleram, mas não quer dizer que aceitam. Agora, a gente deixa claro o que sempre queríamos, para todo mundo, já que somos, por lei, iguais a qualquer outro casal”, disse Augusto.

A cerimônia deste sábado começa às 17h, com um juiz de paz. Depois, os casais assinam o documento e o evento segue com os convidados até as 20h. A noite será animada pela cantora Lia Moraes e terá a presença de autoridades e representantes de órgãos públicos.

Os noivos Rodrigo e Agusto se preparam para o casamento deste sábado (Foto: Vitor Tavares / G1) 

Fonte: G1

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