Oito casais trocam suas alianças em casamento de pessoas do mesmo sexo no Recife (Foto: Vitor Tavares / G1)
Eles sentem tudo igual a qualquer casal nas vésperas de um casamento.
Noivas nervosas em busca dos vestidos, ansiedade para saber os detalhes
da cerimônia e planos para a lua de mel. Neste sábado (23), oito casais,
após anos de convivência e vida compartilhada, concretizam o sonho da
união perante a lei, em um casamento coletivo LGBT realizado no Recife.
A cerimônia para convidados e amigos dos casais será no Forte das Cinco
Pontas, monumento histórico localizado no centro da cidade. O casamento
coletivo é organizado pela Prefeitura do Recife.
A maioria dos noivos que se casa neste sábado já tem uma vida de casado
há anos, dividindo apartamento, contas, planos e tudo que uma
convivência diária impõe àqueles que escolhem partilhar dessa rotina.
Com o casamento civil de fato, permitido por resolução do Conselho
Nacional de Justiça desde 2013, esses casais podem agora ter benefícios
sociais, financiar imóveis e carros juntos, além de terem direito de
adotar o mesmo sobrenome, por exemplo. "Não muda sentimento, mas agora
eu posso gritar pra todos que ela é minha esposa, está na lei e exijo
respeito", disse Sandra Ferreira, 46 anos, almoxarife que se casa após
sete anos de relação com a vendedora Driely Lima.
Elton e Clayson formalizam relação de quatro
anos (Foto: Vitor Tavares / G1)
A mudança para os noivos, além dos direitos legais, é justamente no
sentimento de igualdade, de que as suas relações são tão reais e
respeitadas como as de qualquer outro casal que se ame. Os estudantes
Clayson Lenon, 23 anos, e Elton Passos, 28, se conheceram há quatro
anos, em uma festa, e neste sábado constituem civilmente a união com que
sonhavam. "Eu me assumi homossexual para todos e para mim quando nós
resolvemos começar nosso relacionamento e, em três meses, estávamos
morando juntos. Naquela época, a nossa união não era reconhecida. E,
hoje, ver o poder público patrocinar o meu casamento, esse momento
especial, é muito importante”, disse Elton.
O mês de maio foi o escolhido para a realização da cerimônia pelo
simbolismo de ser o mês das noivas e também por celebrar, no dia 17, o
Dia de Combate à Homofobia. No início, 15 casais resolveram participar
do casamento coletivo, mas sete, por motivos diversos, desistiram no
meio do caminho. “Estamos em um momento em que vem sendo discutido o
modelo de família tradicional. Então, nada mais justo que garantir a
essa unidade familiar o reconhecimento estatal e a proteção que o
casamento civil garante. Queremos incentivar que outros casais se
assumam o amor que vivem”, destacou Wellington Pastor, da Gerência de
Livre Orientação Sexual (GLOS).
Apesar do momento especial para os dezesseis noivos e noivas, muitos
não contam com apoio dos próprios familiares e evitam exposição, mesmo
diante de toda coletividade que a cerimônia deste sábado pede. A certeza
do que querem, entretanto, não passa por questionamento. É o caso das
empresárias Vivian e Glicia, juntas há sete anos, desde que se
encontraram em uma roda de amigas. Usando há muito tempo a aliança na
mão esquerda, simbolizando a relação conjugal, as duas agora se preparam
para o momento que não tiveram a oportunidade de viver antes. “É uma
questão de civilidade”, disse Vivian. “Toda noiva fica em pânico antes
de subir ao altar com seu vestido, né?”, completou Glicia, completamente
no clima da celebração.
Vivian e Glicia já usam aliança na mão esquerda
(Foto: Vitor Tavares / G1)
Mesmo não sendo uma obrigação, alguns casais vão trocar de nomes. É o
caso de Clayson, que vai adotar o “Passos” do marido, Elton. A escolha é
forma de se sentirem mais ligados e, no caso dele, pertencer a uma
família que sempre apoiou a relação dos dois. “A gente chegou a morar
com mãe de Elton, é uma história diferente da que eu tive, que as
pessoas não aceitam”, disse.
O gosto desse casamento também é quase a celebração de uma vitória,
diante de preconceitos e momentos de rejeição por que muitos passaram
ao longo da trajetória. O paraense Augusto Cordeiro e o pernambucano
Rodrigo Sátiro dizem que agora é o início de uma nova página na história
deles, deixando esse sentimento visível para todos. “Nossas famílias
toleram, mas não quer dizer que aceitam. Agora, a gente deixa claro o
que sempre queríamos, para todo mundo, já que somos, por lei, iguais a
qualquer outro casal”, disse Augusto.
A cerimônia deste sábado começa às 17h, com um juiz de paz. Depois, os
casais assinam o documento e o evento segue com os convidados até as
20h. A noite será animada pela cantora Lia Moraes e terá a presença de
autoridades e representantes de órgãos públicos.
Fonte: G1
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