- Reprodução/Digital Globe First Look
O reservatório da usina hidrelétrica Risoleta Neves (Candonga), em Santa Cruz do Escalvado, a 100 quilômetros de Mariana (MG),
está sendo esvaziado às pressas, por causa do risco de rompimento da
barragem de Germano, estrutura da empresa Samarco que ainda ameaça ruir.
A ação deixou a população local perplexa e traz preocupação. Em 5 de
novembro, duas barragens da Samarco, em Mariana, romperam e soterraram com lama subdistritos da cidade.
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"Conforme a água está descendo, está acontecendo erosão da terra bem
embaixo da Estrada de Santana", conta o técnico em mecânica Jarbas
Antônio Lopes, de 54 anos, que havia levado parentes para ver a represa
na manhã de domingo (29).
"Se despencar mais um pouco, vai
bloquear a estrada", diz, referindo-se a uma estrada rural usada por
moradores e trabalhadores das fazendas de gado ao redor da barragem. "O
reservatório estava cheio antes de acontecer isso. No dia em que a lama
chegou, até aqui ficou com pó", conta o técnico, nascido na região, que
costuma visitar familiares no fim de semana.
A ideia é que, caso
Germano estoure, o reservatório de Candonga, que tem capacidade para
544 milhões de metros cúbicos, sirva como barreira de contenção para a
lama, impedindo que ela siga pelo rio Doce, a exemplo do que ocorreu com
os rejeitos das Barragens Fundão e Santarém da Samarco.
No
centro de Santa Cruz do Escalvado, cidade de 8.000 habitantes distante
cerca de 5 km da barragem, moradores dizem não acreditar que o
reservatório será esvaziado. "Não pode. Muita gente pescava por lá até a
lama chegar. Se essa barragem de Mariana estourar e a lama vier toda
para cá, quem garante que a represa vai dar conta? Se der, a lama toda
vai ficar aqui para sempre?", indagou o ajudante-geral Jeferson
Rodrigues, de 22 anos.
Na usina, poucos carros e funcionários
podem ser vistos do portão para fora. As comportas já estavam abertas
desde o dia 7, dois dias depois do acidente em Mariana, e a produção de
energia foi suspensa. A usina tem capacidade para produzir 140 MW/hora,
cerca de um sexto o que pode produzir, por exemplo, a Usina Henry
Borden, da Represa Billings, na região sul da capital paulista.
Barragem
O esvaziamento emergencial foi decidido na sexta-feira (27), quando o
juiz Michel Cury e Silva, da 1ª Vara da Fazenda, teve acesso a relatório
produzido pelo Centro de Apoio Técnico do Ministério Público Estadual. O
relatório atesta comprometimento da barragem de Germano e foi feito com
base em informações prestadas por empresas contratadas pela própria
Samarco. A Justiça deu prazo de dois dias para esvaziamento da represa.
Até sexta-feira, o consórcio que administra a usina (formado pela Vale,
uma das donas da Samarco, e pela Cemig, empresa de energia de Minas)
informou que não havia sido notificado sobre a decisão da Justiça. A
Samarco foi questionada sobre o caso, mas não respondeu. O consórcio que
cuida da represa não atendeu nenhum de seus telefones neste domingo.
No sábado (28), a Samarco divulgou nota em que afirma estar retirando
peixes vivos, com ajuda de empresas terceirizadas e pescadores locais,
do canal de adução da represa de outra usina hidrelétrica, Aimorés,
também em Minas, que fica entre Governador Valadares (MG) e Colatina (ES).
"Depois de recolhidos, os peixes são encaminhados para outros cursos
d'água, que possuem as mesmas características de seu hábitat original",
diz a nota.
Resumo
Além de destruir o distrito de Bento Rodrigues, a tragédia em Mariana já tem confirmadas 11 mortes.
Cinco funcionários da Samarco e três moradores do vilarejo estão
desaparecidos e dois corpos aguardam identificação. Há uma semana, a
lama que vazou da barragem, e atingiu o rio Doce, chegou à foz do curso
d'água, no distrito de Regência (ES).
Justiça
Pela decisão judicial, tomada a pedido do Ministério Público de Minas e
do governo do Estado, a Samarco também fica obrigada a informar o quadro
de estruturas de apoio das represas chamadas Sela, Tulipa e Selinha.
A mineradora terá também de prever "consequências e medidas
emergenciais concretas", executar "integralmente as medidas emergenciais
apresentadas nos estudos anteriormente citados, em caso de rompimento,
bem como eventuais recomendações técnicas do Estado e do DNPM (órgão
federal de fiscalização)". Prevê-se multa diária de R$ 1 milhão para
caso de descumprimento.
Fonte: Uol
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