quarta-feira, 24 de novembro de 2010

CRM cogita cancelamento de folia

O Conselho Regional de Medicina cogita pedir na Justiça o cancelamento do Carnatal 2010, caso o grave desabastecimento na rede estadual de saúde não seja resolvido em tempo pelo Governo do Estado. Hoje, o Hospital Walfredo Gurgel, maior unidade do Estado e referência no atendimento de trauma, não tem itens básicos, como algodão, luva, esparadrapo, fios de sutura, coletores de urina, sonda, além de antibióticos. Para Luiz Eduardo Barbalho, presidente do Cremern, o Rio Grande do Norte não tem como realizar um evento do porte de um carnatal com uma rede de saúde tão deficiente.

O presidente do Conselho Regional de Medicina afirma que a preocupação já chegou às direções dos hospitais públicos e médicos. Como dar suporte a um evento que movimenta um milhão de pessoas se a unidade de referência no atendimento de trauma não tem sequer algodão para fazer curativos? “Recebemos ontem a ligação de um dos chefes de setores do Walfredo Gurgel para informar que o desabastecimento não foi resolvido. Pelo contrário, piorou. Então, estamos preocupados por conta da proximidade de um evento tão grande”, diz Luiz Eduardo Barbalho. Faltam nove dias para o início do Carnatal.

A reportagem da TRIBUNA DO NORTE esteve ontem pela manhã no Walfredo Gurgel e constatou a continuidade do descaso no atendimento ao público. Enfermeiras, ao saber da presença de repórteres, saíram para reclamar das condições de trabalho. Elas preferiram não se identificar, mas disseram que o Walfredo não tem condição de funcionar com a falta de tantos materiais. “Estamos trabalhando na base do improviso”, disse uma delas. Naquele momento, o Hospital se desdobrava para atender os feridos na briga de presos em Alcaçuz.

O médico intensivista Sebastião Paulino, que habitualmente denuncia a situação difícil em que se encontra o Walfredo Gurgel, conta que a unidade sobrevive de empréstimos. “Na segunda-feira, um paciente precisou ser internado e os profissionais do trauma pegaram luvas com o Samu porque não tinha no hospital”, diz. E complementa: “Eu sinceramente nunca vi o Walfredo Gurgel num estado tão crítico de abastecimento. Estamos falando de itens básicos”. Sebastião Paulino foi diretor do Walfredo por quatro anos, ainda na década de 90.

O problema de desabastecimento não é novidade no Walfredo Gurgel esse ano. Há três meses, os chefes de serviços, como a UTI, a ortopedia e a neurocirurgia, ameaçaram paralisar o hospital por conta da falta de condições mínimas. Compras emergenciais foram realizadas e a idéia de paralisação foi afastada. Algumas semanas e tudo voltou a ficar precário. A partir disso, o Conselho Regional de Medicina recorreu à Justiça Federal para tentar resolver o problema. O juiz substituto na 1a. Vara Federal, Hallisson Rêgo, atendeu ao pedido liminar. Em 10 dias, contados desde o último dia 09, o Governo do Estado teria de normalizar o abastecimento do Walfredo Gurgel.

Mas nem mesmo o poder da toga foi suficiente. O prazo acabou, de acordo com a secretaria da 1a. Vara Federal, na semana passada. Quinta-feira para ser mais exato. A decisão do juiz impõe ainda R$ 5 mil de multa pessoal ao governador Iberê Ferreira por descumprimento da decisão. Caso a multa seja mesmo aplicada – a Procuradoria do Estado tem até o dia 29 para recorrer – Iberê Ferreira deve até hoje R$ 15 mil à Justiça. Até ontem à tarde o Governo não havia recorrido da decisão.

Para isso, basta o Conselho Regional de Medicina “avisar” oficialmente que houve descumprimento da decisão judicial. “Estamos cientes que o Governo do Estado não cumpriu a determinação do juiz e vamos tomar providências”, diz Luiz Eduardo Barbalho.

A reportagem da TRIBUNA DO NORTE recebeu da direção do Walfredo Gurgel a seguinte resposta, através da Assessoria de Imprensa: “O Hospital Walfredo Gurgel tem feitos reiterados pedidos de normalização do abastecimento e tem feito tudo o que está ao alcance para resolver o problema”. Segundo o Secretário Estadual de Saúde George Antunes, a situação do Hospital Walfredo Gurgel realmente é crítica e a Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap) aguarda o repasse dos recursos financeiros por parte da Secretaria de Estado do Planejamento e das Finanças (Seplan).
 
Fonte: Tribuna do Norte

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