Um turista brasileiro usou uma rede social para relatar momentos de constrangimento durante uma averiguação da Polícia Aduaneira Francesa após desembarcar no Aeroporto de Nice e ser considerado suspeito de tráfico de drogas. O analista de comércio exterior Daniel Duarte, de 38 anos, diz ter sido humilhado nas cinco horas em que ficou detido e que foi acusado de tentar entrar naquele país com cocaína. Durante a revista no aeroporto, ele foi obrigado a ficar nu e depois foi levado a um hospital da cidade para exames de raio-X. "Queria que tudo acabasse, parecia um pesadelo", desabafa.
O turista já pediu ajuda ao Ministério das Relações Exteriores, por meio do Núcleo de Assistência do Brasileiro no Exterior, mas pretende fazer uma reclamação formal à Embaixada da França, em Brasília (DF), quando retornar ao Brasil na próxima semana. Segundo a assessoria de imprensa do Itamaraty, após análise do pedido e avaliação do caso, o governo brasileiro pode pedir explicações às autoridades francesas.
Barrado
Conhecer a Europa por cerca de duas semanas era um sonho para o analista de comércio exterior, que é casado e tem uma filha de sete anos, mas viaja sozinho desde 26 de março. Ele mora com a família em Vinhedo (SP), no interior de São Paulo. A primeira parada do tour foi em Londres, na Inglaterra. Depois ele seguiu para Amsterdam, na Holanda, e Barcelona, na Espanha, antes de seguir de avião para Nice. O desembarque na cidade francesa foi na terça-feira (8) foi as 16h40 (horário local).
Após passar pelo guichê da imigração e ser entrevistado pela Polícia Aduaneira, o turista foi levado para uma sala, sozinho, e depois revistado diversas vezes, assim como a bagagem que ele levava. "Eles me perguntavam o que eu ia conhecer para eu ficar um dia em Nice, diziam que eu estava com cocaína e que era para eu falar, que seria melhor. Eu dizia: 'podem olhar tudo, eu não uso, não trago na mala, mas eles riam e não acreditavam", conta. Duarte revela ainda que supervisores da polícia também participaram da averiguação no aeroporto. "Eles revistaram tudo várias vezes. Eu não tinha o que falar, foi terrível", completa o analista.
Como os agentes não encontraram indícios de droga com o passageiro e na bagagem, os policiais disseram que seria necessário levá-lo a um hospital de Nice para exames de raio-X. Antes disso, os agentes entregaram um documento, em português, que dizia que o turista era considerado suspeito de tráfico e informaram que ele teria que assiná-lo. Caso contrário, poderia ficar preso por um ano, além de pagar multa de 3.750 euros. Em nenhum momento o turista recebeu cópia da documentação.
Durante o transporte para o hospital, os agentes ameaçaram algemar o brasileiro. "Eles me disseram que o procedimento padrão era algemar, mas que se eu estivesse calmo, não precisaria. Como eu estava tranquilo, não me algemaram", descreve. Na unidade médica, ele foi submetido a radiografia de abdômen e intestino. Os policiais também pediram que o médico responsável fizesse um exame de toque, mas o procedimento foi negado. "O médico era a única pessoa lúcida no meio disso tudo. Disse que não seria necessário [o exame de toque], que não havia nada comigo", diz o turista.
A averiguação, segundo Daniel Duarte, terminou quando os agentes devolveram o passaporte e a bagagem, e o deixaram na Estação Nice Ville, por volta das 21h, horário local. Ele foi a pé até o hotel. "No final de tudo, não me deram nada. Nenhum papel. Me deixaram na estação, deram minha mala e disseram 'adiós [adeus, em espanhol]'. Nenhuma explicação, nenhum pedido de desculpas", reclama. O analista de comércio exterior diz guardar uma horrível impressão de prepotência e arrogância no primeiro contato com a França e que não tem vontade de retornar ao país. "Apaguei da minha lista", afirma
O "pesadelo" na França, de acordo com o turista, só vai terminar quando ele voltar ao Brasil e reencontrar a esposa, a mãe e a filha de 7 anos. As últimas paradas da viagem foram para o Principado de Mônaco e San Remo (Itália). A chegada está prevista para terça-feira (15). Em nota, a Embaixada da França no Brasil informou que um passageiro insatisfeito com a situação de fiscalização aduaneira pode, no mesmo instante, formalizar uma reclamação e um formulário é entregue com essa finalidade.
Além disso, o estrangeiro também pode escrever para a direção regional do setor em questão, no caso a Direção Regional Aduaneiro de Nice, ou diretamente para a Direção-Geral das Aduanas e dos Direitos Indiretos. Segundo a Embaixada francesa, toda reclamação recebida é analisada e recebida. No entanto, a postura adotada pelos policiais e o que prevê a legislação local em situações de abordagens como a relatada na reportagem não foi comentada.
Fonte: G1
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