Há pouco mais de um mês em sala de aula, a professora Jéssica Souza já sente os reflexos da rotina exaustiva que compromete principalmente a sua saúde vocal. Responsável por ministrar aulas a crianças entre três e quatro anos de idade, a docente apresenta sinais de rouquidão e irritação na garganta.
Jéssica é apenas um dos muitos exemplos de profissionais que encontram dificuldades em manter a saúde vocal sem o auxílio e acompanhamento de especialistas. "Além de explicar o conteúdo, temos que chamar atenção dos alunos, o que realmente acaba comprometendo a nossa voz. Ficamos sem saber o que fazer, tomando remédios por conta própria", revela.
Hoje assumindo funções na gestão de uma escola, a professora Jandira Maria precisou deixar a sala de aula devido a constantes problemas em sua voz. "Tive que pedir readaptação de função. Na equipe de gestão, vejo que são muitos os casos semelhantes ao meu, isso porque não temos no âmbito escolar um acompanhamento adequado, especialistas que possam ministrar palestras, promover um trabalho de prevenção nesse sentido", relata.
Ainda segundo Jandira Maria, questões salariais impossibilitam que os docentes procurem ajuda em consultórios médicos particulares. "Com o salário que recebemos não dar para ir ao fonoaudiólogo, pagar um plano de saúde, nossa situação é bastante complicada", enfatiza.
De acordo com a fonoaudióloga Isabel Linhares, entre os profissionais que utilizam a voz em suas funções laborais, o professor lidera a busca por tratamento em seu consultório. "Os docentes utilizam a voz por um longo período, muitas vezes em até três expedientes diariamente, o que acaba gerando uma série de problemas. Quando chega o final de semana, por exemplo, eles relatam um certo cansaço vocal, problemas na respiração, entre outros, que podem se agravar, gerando até nódulos", detalha a especialista.
Conforme Isabel Linhares, o professor precisa ficar atento aos sinais de que algo está errado com a sua voz. "Se as alterações na emissão natural da voz permanecerem por mais de 15 dias, é hora de procurar um otorrinolaringologista, que, dependendo da situação, poderá encaminhar o paciente para um fonoaudiólogo", revela.
Na visão da fonoaudióloga, melhor do que tratar o problema é evitá-lo. "É essencial que as instituições de ensino disponibilizem especialistas para acompanhar o professor, orientá-lo, sinto que falta isso. Costumo dizer que prevenir é sempre melhor do que tratar. Já recebi em meu consultório pacientes com três, quatro anos de sala de aula, já sem condições de continuar na função. Acredito que até mesmo na grade curricular durante a formação dos docentes seria interessante acrescentar disciplinas que discutam a saúde vocal", pontua.
Projeto de lei estabelece medidas para prevenir a saúde vocal dos professores
De autoria da vereadora Izabel Montenegro (PMDB), foi apresentado na Câmara Municipal de Mossoró (CMM) o Projeto de Lei (PL)nº 253/2014 que estabelece medidas de promoção e prevenção da saúde vocal dos professores da rede municipal de ensino local.
Conforme o art. 1º do projeto, o Poder Executivo municipal instituirá medidas consistindo na orientação e prestação de informações aos professores municipais sobre o uso adequado da voz, envolvendo ainda outras ações de conscientização que se fizerem necessárias para a preservação da saúde vocal dos educadores.
Em sua justificativa para a sanção do PL, a vereadora Izabel Montenegro afirma que "os professores sofrem constantemente com os problemas de saúde relacionados à voz. Disfonias são os casos mais recorrentes e urge a necessidade de se instituir medidas de prevenção e esse é o objetivo do projeto. Desta forma, nossos profissionais terão um importante apoio no desenvolvimento de suas atividade cotidianas de sala de aula", conclui.
Fonte: O MOSSOROENSE
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