Foi de um projeto socioeducativo realizado pela cineasta e arte-educadora do Centro de Referencia Especial da Assistência Social (Creas), Joriana Pontes, que surgiu a ideia do filme "Segunda chance - As cartas", uma produção realizada em Mossoró, que narra a trajetória de um adolescente imerso em um mundo de criminalidade e violência, onde os vínculos familiares são quebrados ou distorcidos. O filme está em fase de conclusão e em breve deverá ser exibido na cidade.
De acordo com Joriana Pontes, o projeto que idealizou o filme consistia na confecção de cartas, com desabafos e relatos de jovens que cumpriam medidas socioeducativas no Creas. A partir destes relatos documentais, Joriana começou a desenvolver uma obra de ficção que mesclasse essas histórias de vida em um personagem.
"Eu trabalho com adolescentes em conflitos com a lei, e que ao mesmo tempo têm seus vínculos familiares e pessoais todos quebrados ou desconstruídos. As cartas eram uma forma palpável de documentação das frustrações cotidianas que os levaram a esse caminho de incertezas e dificuldades", relata Joriana.
Para auxiliar a educadora no projeto foi convidado o cineasta e documentarista Jean Custo, que agregou a experiência que teve como diretor de Comunicação na Associação Brasileira e Documentarista no Rio Grande do Norte - ABD-RN e também na coordenação da Mostra de Cinema Brasileiro.
"As cartas que vimos foram abrindo várias ideias em nossa cabeça, afinal são histórias muito emocionantes, muito reais. O universo da periferia, dos bairros mais afastados e esquecidos pelo poder público foi narrado com muita sensibilidade e tato", comenta Jean, que dirige, ao lado de Joriana, a produção.
De acordo com os diretores do filme, outra grande inspiração para o projeto foi o documentário "Segunda Chance", de autoria de Joriana, que narra, sob a estética documental, o dia a dia de meninos que cumprem medidas como liberdade assistida (LA) e prestação de serviço comunitário (PSC) no Creas. O trabalho deu o tom para o filme que será lançado em breve.
O filme procura apresentar, em seu enredo, outro olhar sobre o drama vivido por adolescentes que enveredam pelo mundo da ilicitude. Apresentando os motivos que muitas vezes o levam para essa vida, a trama procura mostrar que existe a possibilidade de uma vida diferente daquela que é imposta a esses jovens.
Nas filmagens, que foram gravadas a maior parte na "Favela do Fio", a participação da comunidade foi fundamental para o desenrolar da história, com muitos 'takes' filmados unicamente com atores e atrizes não profissionais, que puderam opinar e participar da construção deste trabalho.
"A história que gravamos é fictícia em suma, mas é também um emaranhado de biografias reais, de episódios emocionantes na vida destes garotos. Fazer arte por si só nos modifica, mas viver este universo nos modifica muito mais", aponta Joriana Pontes, lembrando que a participação dos adolescentes no filme foi muito importante para a autoestima deles.
A produção tem um elenco de seis atores da Cia. Bagana de Teatro, além de 10 auxiliares do Creas, quatro representantes da fotografia e edição e três produtores, contando também com um número incontável de membros da comunidade, que apoiaram e participaram das filmagens. A trilha sonora do trabalho é assinada pelo artista mossoroense Arthur Soares.
O filme é classificado pelos diretores como um média-metragem, já que possui cerca de 30 minutos de duração. As gravações levaram seis semanas nos bairros Santo Antônio, Centro, Liberdade I, além da já citada Favela do Fio, palco principal da produção. O lançamento está previsto para o próximo mês e promete emocionar espectadores e adolescentes que participaram da produção.
Cláudio Palheta Jr.
Editor do Universo
Fonte: O Mossoroense
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