São 51 metros de comprimento e 80 centímetros de largura. O túnel é todo revestido com madeira justamente para não ter perigo de desmoronar. Eles colocavam madeira do lado, madeira firme. E madeira em
cima também. O túnel começa em uma casa, em Natal, capital do Rio Grande
do Norte e termina em uma empresa de transporte de valores. Seria usado
para roubar muitos milhões de reais que estavam trancados num cofre.
No túnel passava uma pessoa por vez. Não tem nem espaço para mais de uma pessoa.
A primeira atitude dos bandidos foi comprar a casa, sete meses atrás. O
preço: R$ 135 mil. O imóvel pertencia a um casal, que já prestou
depoimento à polícia. Segundo eles, os compradores foram um senhor, que
aparentava ter 60 anos, e uma mulher mais jovem.
“Queria comprar a casa à vista e queria que eu entregasse logo”, conta uma mulher que não quis se identificar.
Para justificar o entra e sai de gente, os bandidos reformaram a casa.
Toda terra que eles retiravam do túnel ficava na casa que eles
compraram. Em um dos quartos tem saco de terra até o teto. Eles cobriram
todo o quintal com telhas novas para não chamar a atenção dos vizinhos.
As escoras de madeira para evitar o desabamento do túnel eram
pré-moldadas.
“Eles empurravam com macaco hidráulico e já dava espaço pra eles
encaixarem a próxima. E com o próprio peso da terra em cima, fixava já
de novo”, explica o soldado Hudson César, do Corpo de Bombeiros.
Pedimos a dois engenheiros que analisassem os equipamentos usados pelos bandidos na escavação do túnel.
Eunélio Silva, engenheiro civil: Esta é uma broca de fabricação alemã,
de titânio, capaz de romper superfícies extremamente duras.
Ana Dias Paulino, vice-presidente CREA/RN: Nem toda universidade tem e
nem todo profissional de engenharia sabe usar. Existia um projeto e
existia um profissional capacitado pra isso.
O túnel tem 5 metros de profundidade.
A equipe do Fantástico tenta mostrar mais uma parte do túnel. É muito
estreito, os bandidos praticamente rastejavam ali. É um local abafado,
pequeno mas segundo o corpo de bombeiros, seguro. Por isso que a equipe
do Fantástico gravou lá dentro. Eles tinham um sistema de ventilação e
lâmpadas no túnel. E segundo a polícia, eles também usavam um cimento
importado que em 30 minutos já estava seco. O fim do túnel, já está
dentro da empresa e praticamente embaixo do cofre. Faltava muito pouco
para o grupo conseguir realizar o assalto. No fim do túnel não tem o
sistema de ventilação, então, já é bem mais abafado.
O plano só não deu certo porque a Polícia Militar recebeu uma denúncia
anônima sobre a existência de uma quadrilha de assaltantes de caixas
eletrônicos e prendeu seis homens. Quatro são de São Paulo. Eles estavam
em uma outra casa, com vários equipamentos de escavação. A delegada,
que é formada em geologia, desconfiou e começou a procurar o túnel.
“Com o material apreendido, com várias anotações, nós conseguimos chegar
até o bairro e acionar o portão de uma casa com o controle remoto que
foi apreendido dentro de um veículo utilizado por eles”, conta a
delegada Sheila Freitas.
Foi assim que a polícia descobriu todo o plano.
Um dos homens presos é Iran Sérgio de Barbosa Lúcio, de 35 anos.
Assaltante de banco e traficante, ele tinha fugido da cadeia em
fevereiro. Em 2010, Iran esteve na mesma prisão com Ricardo Laurindo da
Costa, um dos acusados de participar do assalto ao Banco Central, em
Fortaleza, dez anos atrás. Na capital cearense, os bandidos fizeram um
túnel de 78 metros e fugiram com cerca de R$ 164 milhões. Ricardo
conseguiu a liberdade provisória e foi morto em uma troca de tiros com a
polícia, em 2012, depois de roubar outro banco. A polícia acredita que
foi ele quem deu as dicas para Iran sobre o uso de túneis em assaltos.
“Certamente utilizaram já o know how daquela atuação deles, daquele
grupo criminoso”, comenta Kalina Leite, secretária de segurança pública
do RN.
Na época, um engenheiro vistoriou o túnel do roubo ao Banco Central e
diz que há semelhanças com o que foi descoberto esta semana na capital
do Rio Grande do Norte.
“Tipo de escoramento, a forma como foi feito, sistema de ventilação”, afirma o engenheiro civil Eunélio Silva.
Agora, a polícia investiga como a quadrilha sabia tantos detalhes da empresa transportadora de valores.
“Onde onde fica o cofre, qual o dia do abastecimento. Necessariamente é
uma informação privilegiada porque o grupo criminoso quando ele atua
fazendo investimento como o que foi feito é porque há a informação
certa”, diz Kalina Leite, secretária de segurança pública do RN.
Fonte: Fantástico via João Moacir
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